"Memórias de um Sargento de Milícias" Resumo da obra de
Manuel Antônio de Almeida
O romance de
Manuel Antônio de Almeida, escrito no período do romantismo, retrata a vida do
Rio de Janeiro no início do século XIX e desenvolve pela primeira vez na
literatura nacional a figura do malandro.
Resumo
Por ser originariamente um folhetim,
publicado semanalmente, o enredo necessitava prender a atenção do leitor, com
capítulos curtos e até certo ponto independentes, em geral contendo um episódio
completo. A trama, por isso, é complexa, formada de histórias que se sucedem e
nem sempre se relacionam por causa e efeito.
“Filho de uma pisadela e de um
beliscão” (referência à maneira como seus pais flertaram, ao se conhecer no
navio que os conduz de Portugal ao Brasil), o pequeno Leonardo é uma criança
intratável, que parece prever as dificuldades que irá enfrentar. E não são
poucas: abandonado pela mãe, que foge para Portugal com um capitão de navio, é
igualmente abandonado pelo pai, mas encontra no padrinho seu protetor. Esse é
dono de uma barbearia e tem guardada boa soma em dinheiro.
Enquanto o pequeno Leonardo apronta
as suas diabruras pela vizinhança, seu pai, Leonardo Pataca, se envolve
amorosamente com a Cigana, mas essa o abandona logo. Ele, então, recorre à
feitiçaria (proibida naquela época) para tentar trazê-la de volta. Porém, no
auge da cerimônia o major Vidigal e seus homens invadem a casa do feiticeiro,
açoitam os praticantes e levam Leonardo Pataca preso. Ele pede socorro à
Comadre, que pede ajuda a um Tenente-Coronel que se considerava em dívida com a
família de Pataca, e ele logo é solto.
Já o Compadre (ou padrinho) que
cuidava do menino Leonardo havia aprendido o ofício de barbeiro com o homem que
o criara. Foi para a África como médico em um navio negreiro e, durante a volta,
o capitão em seu leito de morte lhe confiou um baú de dinheiro para que o
entregasse a sua filha. Ele, porém, ficou com o dinheiro. Após isso aparenta
ter se tornado um homem de bem e cria o Leonardo como se fosse um filho,
sonhando em torna-lo padre. O menino, porém, causa transtornos por qualquer
lugar onde passa e, após levar uma enorme bronca do padre da cidade, jura
vingança.
O padre era um homem que aparentava
ser santo, mas na realidade era um lascivo e fora ele quem roubara a Cigana de
Leonardo Pataca. Como o padre passava boa parte de seu tempo na casa dela, um
dia o menino Leonardo resolve armar uma emboscada para desmascará-lo. Ele vai
até a casa da Cigana para informar o horário de uma festa, mas ele mente o
horário para que o padre chegue atrasado. Quando por fim chegou à igreja, o
padre repreende ao menino perguntando-lhe qual era a hora certa do sermão.
Leonardo, então, diz que falou o horário correto e que a Cigana estava de
prova, pois ouviu tudo. Sem saber o que fazer frente ao choque de todos, ele
dispensa o menino.
Leonardo Pataca, ao saber que havia
sido trocado pelo padre, resolve tentar conquistar Cigana novamente. Ela,
porém, não dá bola para ele. Para se vingar, ele contrata um amigo para causar
uma confusão em uma festa que ela iria promover em sua casa. No momento da
bagunça Vidigal, que já havia sido avisado por Pataca, aparece e prende o padre
em flagrante, somente de cueca, meia, sapato e gorrinho na cabeça. Com isso,
Leonardo Pataca consegue ficar mais um tempo com a Cigana.
O Compadre passou a frequentar a
casa de D. Maria, uma rica mulher com gosto pelo Direito, sempre acompanhado do
afilhado Leonardo. Com o tempo o menino foi sossegando, até que chegou a idade
dos amores. Luisinha, uma menina descrita como feia e que era filha do
recém-falecido irmão de D. Maria, foi morar com a tia. No dia da festa do
Espírito Santo foram todos ver a queima de fogos. A menina se divertiu, abraçou
Leonardo pelas costas e no final os dois voltaram de mãos dadas. Após isso, porém,
Luisinha voltou a ficar tímida.
Um dia entra em cena José Manuel,
homem mais velho que fica interessado em Lusinha por conta da herança que ela
havia recebido do pai e que iria receber de D. Maria, já que ela era a única
herdeira. O Compadre, percebendo os interesses de José Manuel, se junta à
Comadre para tentar espantar o interesseiro. Enquanto isso, Leonardo tenta
conquistar Luisinha, mas ele acaba saindo muito sem jeito e acaba espantando
ela. Porém, fica claro que Luisinha também gosta de Leonardo. Para tentar
afastar José Miguel, a Comadre inventa uma série de mentiras, que logo são
descobertas. Então, D. Maria, ao invés de expulsar José, acaba se afastando da
Comadre, agora desacreditada.
Enquanto isso, novamente traído pela
Cigana, Leonardo Pataca junta-se com a filha da Comadre e têm um filho juntos.
Pouco depois o Comadre morre e Leonardo vai morar junto com o pai. Porém, ele e
sua madrasta não conseguem se entender e, após muitas brigas, ele foge de casa.
Afastado de todos, Leonardo conhece um grupo que estava fazendo piquenique e
reconhece dentre eles um amigo seu de infância.
Leonardo passa a morar junto com
eles na Rua da Vala. Lá vivem duas quarentonas viúvas e seus seis filhos, sendo
que uma tinha três rapazes e outra três moças. Vidinha era a mais bonita e era
disputada por dois primos. Porém, ela acaba se enamorando com Leonardo e os
dois passam o dia namorando dentro de casa, o que desperta ciúmes dos outros
rapazes. Esses, por sua vez, vão falar para Vidigal que Leonardo está vivendo
como intruso na casa e tirando proveito das mulheres. Num dia, Vidigal aparece
e leva Leonardo preso, mas esse consegue fugir.
A Comadre arruma um emprego para
Leonardo na ucharia real, mas ele se envolve com a esposa do patrão e acaba
despedido. Vidinha vai até a casa de Toma Largura, ex-patrão de Leonardo, para
brigar com ele e com sua esposa. Enquanto isso, Vidigal consegue prender
Leonardo. Acontece que Toma Largura ficou encantado com Vidinha e começa a
cerca-la de todas as formas. A moça, encarando a ausência de Leonardo como
consequência das últimas brigas, resolve ceder à insistência de Toma Largura.
Obrigado pela polícia, Leonardo
começa a servir ao exército. Depois de um tempo, Vidigal o coloca no batalhão
de granadeiros para combater os malandros do Rio. Porém, ao contrário do que
ele pensava, Leonardo continua aprontando dentro do próprio batalhão de
polícia. Na última delas, Vidigal planejava prender um homem que fazia
imitações suas para animar festas. Mas Leonardo acaba se divertindo com as
graças do imitador e o avisa das intenções de Vidigal. Quando o major descobre
a traição de Leonardo, prende o moço sob juramento de algumas chibatadas.
A Comadre fica sabendo disso e vai
pedir ajuda à D. Maria e à Maria Regalada, antiga amante de Vidigal. Elas vão
até a casa do major, que as recebe com roupa civil da cintura para baixo e
farda da cintura para cima. Não conseguindo resistir aos pedidos das três
mulheres, Vidigal perdoa Leonardo e ainda promete promove-lo à sargento do
exército.
Enquanto tudo isso acontecia,
Luisinha estava casada com José Manuel, que a tratava mal e só se preocupava
com o dinheiro da moça. D. Maria resolve preparar uma ação judicial contra o
homem, mas ele acaba morrendo vítima de um ataque apopléctico (parecido com um
derrame). Após o enterro de José Manuel, preparam tudo para o casamento de
Luisinha, agora uma mulher feita e bonita, com Leonardo, bonito e muito
elegante em sua farda de sargento do exército. Algum tempo depois, D. Maria e
Leonardo Pataca também morrem e, junto com as outras heranças que já tinham,
receberam mais duas.
Lista de
personagens
Leonardo: protagonista que garante unidade à narrativa. O sargento
de milícias a que se refere o título da obra é Leonardo, embora o personagem
obtenha esse cargo somente nas últimas páginas do livro.
Leonardo Pataca: pai de Leonardo, um meirinho (oficial de Justiça) que fora
vendedor de roupas em Lisboa e, durante sua viagem ao Brasil, conhece Maria das
Hortaliças, o que resultará no nascimento de Leonardo.
Maria das Hortaliças: mãe de Leonardo, uma saloia (camponesa) muito
namoradeira, que abandona o filho para ficar com outro homem.
O Compadre ou O Padrinho: é dono de uma barbearia
e toma a guarda de Leonardo após os pais abandonarem a criança. Torna-se um
segundo pai para ele.
A Comadre ou A Madrinha: mulher gorda e bonachona,
apresentada como ingênua, frequentadora assídua de missas e festas
religiosas.
Major Vidigal: homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão. Apesar
do aspecto pachorrento, era quem impunha a lei de modo enérgico e centralizado.
Dona Maria: mulher idosa e muito gorda, não era bonita, mas tinha
aspecto bem-cuidado. Era rica e devotada aos pobres. Tinha, contudo, o vício
das demandas (disputas judiciais).
Luisinha: sobrinha de dona Maria. Seu aspecto, inicialmente sem
graça, se transforma gradualmente, até se tornar uma rapariga
encantadora.
Vidinha: mulata
de 18 a 20 anos, muito bonita, que atrai as atenções de Leonardo.
Sobre Manuel Antônio de Almeida
Manuel Antônio de Almeida nasceu em
17 de novembro de 1830 na cidade do Rio de Janeiro. Enquanto fazia a Faculdade
de Medicina começou a carreira de jornalista levado por dificuldades
financeiras. Formou-se em 1855, mas nunca chegou a exercer a profissão de
médico.
Durante 1852 e 1853 publicou anonimamente
(assinava como “um Brasileiro”) os folhetins que dariam origem ao livro
Memórias de um Sargento de Milícias (1854-55). Na terceira edição, que saiu
postumamente em 1863, o nome verdadeiro do autor passou a constar na obra.
Ainda durante essa mesma época, publicou uma peça, alguns poemas, um libreto de
ópera e escreveu sua tese de Doutorado em Medicina.
Em 1858 foi nomeado Administrador da
Tipografia Nacional, onde conheceu Machado de Assis. Em 1859 é nomeado 2º
Oficial da Secretaria da Fazenda e, no dia 28 de novembro de 1861, acaba
falecendo no naufrágio do navio Hermes.